Na indústria de mel, há grande oportunidades de crescimento
A geografia do Brasil favorece muito a apicultura. Podemos constatar isso através de seu constante crescimento, o que movimenta a economia e gera empregos.
A melhor maneira de conhecermos mais o setor de mel é falar com quem entende bem do assunto. Foi por isso que entrevistamos o Sr. Alcindo Alves, que é vice-presidente da COAPIS (Cooperativa dos Apicultores de Sorocaba e Região) e presidente da Federação de Apicultores do Estado de São Paulo.
Foi uma entrevista bem esclarecedora e importante para que todos compreendam melhor o impacto deste setor na economia brasileira. Confira a seguir:
ASSESISP: O Brasil possui reservas florais disponíveis que podem produzir mais de 150 mil toneladas anuais de mel de primeira qualidade. O que é necessário para que esse setor atinja seu potencial máximo e fique no topo do ranking mundial?
Alcindo: Não só 150 mil, eu acredito que o Brasil tenha capacidade para produzir até mais - cerca de 180 a 200 mil toneladas ao ano. O país tem muita florada. Ele tem muitos climas diferentes em todos os estados, o que possibilita a florada o ano inteiro. Basta acreditarmos, termos coragem de fazer com que a apicultura seja uma das atividades principais daqueles que moram no campo. É preciso ter incentivo do governo brasileiro, recebendo o mesmo apoio de outras atividades como a criação de gado, a produção de leite, de soja, etc.
ASSESISP: Segundo dados da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA) e da Associação Brasileira de Exportadores de Mel (ABEMEL), o setor possui 184 entrepostos com Serviço de Inspeção Federal (SIF), uma estimativa de 450 mil ocupações diretas no campo e milhares de empregos, sendo 19 mil na indústria de processamento e 17 mil na indústria de insumos, além de um mercado de varejo avaliado em 796 milhões de reais. Você poderia comentar estes números?
Alcindo: Nós sabemos desses entrepostos. Infelizmente, a maioria deles hoje não opera com a sua capacidade total devido aos poucos recursos que o país possui, além dos poucos incentivos. Temos condições de avançar e de atingir uma ocupação bem melhor na apicultura do nosso país e do nosso estado.
ASSESISP: No ranking da apicultura no mundo, o Brasil ocupa a 9ª posição mundial. O estado de São Paulo é responsável por cerca de 50% da produção de mel, entrepostos e insumos na região Sudeste. Você acha que estas estatísticas estão corretas? Em caso positivo, ainda vê chances de esta área se expandir ainda mais, sobretudo em São Paulo? Qual é a importância da apicultura para a economia paulista?
Alcindo: A China está em primeiro lugar e a Argentina, nossa vizinha, está em uma ótima posição mundial, mesmo com um tamanho e uma vegetação inferiores aos do Brasil. Ainda assim, nós não temos essa produção que eles têm. Basta trabalharmos na industrialização da apicultura, fazer com que ela tenha máquinas modernas de produção, mais transporte, etc. Com certeza temos condições de chegar ao terceiro ou quarto lugar, pois possuímos capacidade de florada, afinal, temos enormes floradas no país inteiro.
Precisamos de capacitação dos apicultores para desenvolver uma apicultura mais avançada. Produzimos cerca de 40-50 mil toneladas, mas podemos chegar a 200 mil por ano sem problema nenhum.
Quanto a essa posição de São Paulo produzir 50% do mel do país, eu tenho dúvidas. Creio que chegue a 50%. É lógico que a exportação é grande, mas eles compram de outros estados e exportam por aqui. Então, a exportação é mais do que 50%, mas a produção não. Ainda temos condições de crescer.
Quanto à importância da apicultura paulista, temos certeza de que se conseguirmos capacitação técnica e apoio, podemos chegar longe. Hoje nosso estado ocupa a 8ª posição do ranking brasileiro - creio que essas estatísticas estejam erradas. Se conseguirmos um levantamento e um cadastramento de pelo menos 80% do setor, chegaremos no mínimo ao segundo lugar da produção do país. Isso eu tenho certeza, pois temos muito a crescer.
ASSESISP: A Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento irá lançar o Plano de Fortalecimento da Apicultura e Meliponicultura do Estado de São Paulo. Entre as medidas, estão facilitações para aumentar a produção de mel das atuais 3,7 toneladas para 6,3 toneladas nos próximos 10 anos. Quais são suas considerações sobre esse Plano?
Alcindo: Conseguimos realizar o 24º Congresso Brasileiro de Apicultura, que será feito em julho em 2022, em São Paulo. Queremos chegar lá com a apicultura já avançada e com 60 ou 70% desse Plano já aplicado e trabalhando. Então, nós iremos crescer os números da apicultura do nosso estado e mostrar a capacidade de produção que temos.