Importação crescente é um desafio para o setor de leite
O setor de produção de leite no Brasil enfrenta um desafio devido ao aumento das importações de produtos lácteos da Argentina e Uruguai, alertou a Lactalis, líder do mercado nacional de lácteos. Essas importações têm sido impulsionadas pela diferença de preços entre a matéria-prima local e a fornecida por esses países vizinhos, o que deve pressionar as margens do setor a partir do próximo mês.
No primeiro quadrimestre deste ano, as importações brasileiras de leite, creme de leite e laticínios (exceto manteiga ou queijo) totalizaram quase 70 mil toneladas, mais que o triplo das importações registradas no mesmo período do ano anterior, de acordo com dados do governo federal. Além disso, as importações de manteiga e outras gorduras derivadas do leite também aumentaram, assim como as importações de queijo e coalhada.
O CEO da Lactalis para a América Latina, Patrick Sauvageot, alertou que se o consumo não acompanhar o ritmo das importações, haverá um excesso de leite no mercado. Ele destacou que os consumidores não estão conseguindo arcar com os preços atuais do produto acabado. Historicamente, o leite importado da Argentina e do Uruguai é cerca de 15% mais barato que o leite nacional, mas a diferença percentual aumentou este ano devido à escalada dos preços internos no Brasil.
A Argentina e o Uruguai aumentaram significativamente suas exportações de produtos lácteos para o Brasil neste ano, agravando a concorrência por fornecedores e impactando os preços. As importações de lácteos têm aumentado progressivamente desde 2015, principalmente devido à redução da oferta interna de leite causada pela estiagem no Brasil e pelo aumento global dos preços dos grãos.
Natália Grigol, analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, explicou que essa situação atípica reflete nos preços, que subiram em janeiro, quando geralmente deveriam estar mais baixos. Existe o risco de os valores caírem nos próximos meses, quando normalmente deveriam subir, devido às importações. A indústria de laticínios ainda não parece ter se adaptado completamente a essa nova realidade, enfrentando uma concorrência acirrada por fornecedores.
Patrick Sauvageot argumentou que aumentar a produtividade do rebanho e a qualidade do leite no Brasil ainda é um desafio estrutural a ser superado. Ele defendeu a intervenção do governo para evitar uma crise no setor causada por quedas abruptas nos preços, propondo o estabelecimento de um limite para as importações. No entanto, outros especialistas, como Roberto Jank Jr. e Natália Grigol, não acreditam que o governo seja capaz de restringir as importações devido às implicações comerciais, uma vez que o Brasil também exporta produtos lácteos para a Argentina e o Uruguai.
“O setor de laticínios no Brasil precisa estar atento aos movimentos do mercado e buscar uma atuação conjunta e respeitosa para enfrentar os desafios e alcançar resultados positivos”, destacou Renato Sebastiani, presidente da Assesisp.
Fonte: Valor Econômico (22/05/2023)